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No declive sereno rebolam os olhos pelos campos de ervas e flores encosta abaixo como quem se desliga e se minimiza ao ponto de vista de uma pétala. Deixa-se de se ser activo. Desliga-se o cordão umbilical e o telemóvel e transporta-se o presépio à inanimada experiência…
Onde só as folhas falam, os pássaros voam e os rios cantam, no intervalo de cada milímetro e de cada segundo encontro-te tranquilamente vigilante. Lá, atrás do declive onde o tempo perdeu o relógio. Também tu paraste.
Curioso… nascem ao mesmo tempo, filhos da mesma mãe – a discórdia...
Vão nascendo… Partos difíceis onde a mãe, melodramaticamente, acaba sempre morta, e nós, os recém-renascidos, sofremos sempre deste amnésia retrógrada… Que conveniente!
Ah!! Mas quando o tempo pára… quando o tempo deixa de ter sentido e os segundos se sentem latejantes na nuca, segundo a segundo, a fazer eco até passar um minuto… quando isso acontece… afogamo-nos numa enxurrada de imagens sequenciais, tristes por sinal, do que foi um parto – o nosso.
Isto de renascer da memória faz-nos mais velhos.
Mas note-se a beleza disto tudo, não é de todo o parto! Não, não! A beleza disto tudo é nascer de olhos fechados, de novo.
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Ensurdece-me o despertador e sussurro-te: "Bom dia de manhã!"...